Parentalidade em construção


Maria Avelina Fuhro Gastal

O Senhor Jesus está assentado à direita de Deus Pai. (Salmo 110:1).

Maria creu na mensagem vinda de Deus e concordou em se tornar mãe de Jesus (Lucas 1:38). Como o anjo havia predito, ficou grávida virgem, cumprindo a profecia do Antigo Testamento (Isaías 7:14).

Fico imaginando a força da fé de José para aceitar, sobretudo acreditar, e desposar Maria, grávida, tornando-se, frente à sociedade, pai de um filho que não era seu.

Pouco sei sobre a relação de José com Jesus, ela é ofuscada pela presença de Deus, pela devoção à Maria, pela missão de Jesus Cristo. Desconhecemos o lugar de fala de José. Como foi ter sido pai do Salvador? Que desavenças teve com Maria na criação do filho? O quanto de suas características, trejeitos, crenças e temores estavam presentes naquele menino tomado por ele como filho?

Maria concede às mães um manto de divindade; José cumpre junto com todos os pais um papel de coadjuvante.

Nossos filhos não são concebidos pelo Espírito Santo. Eles são o resultado da união de dois corpos, humanos, pessoas imperfeitas, incompletas. Planejados, desejados, inesperados transformam nossas vidas e a forma como enxergamos o mundo.

Mesmo que concebidos por decisão conjunta, cabe à mãe uma relação visceral com o filho, que se alimenta através do corpo dela, reconhece as batidas do coração, expande o ventre e o ondula com movimentos que marcam a presença dele em nós. Ao pai, resta acompanhar as alterações no corpo da mãe, sentir os movimentos encostando a mão sobre a pele da barriga da mulher que permite perceber o filho, mas não o sentir nas entranhas.

A mulher traz ao mundo, amamenta, estabelece vínculo com o filho na dualidade da relação. É tudo tão intenso que o mundo exterior aos dois perde espaço. Inclusive o pai.

Não nascemos mães e pais. Precisamos nos construir como tais. Acertamos, erramos, cansamos, retomamos. Passar por essa construção de forma isolada é doloroso e injusto, principalmente para o filho.

Hoje, não aceitamos mais o pai ausente, o pai provedor, o pai punitivo. Para que o pai possa exercer a paternidade em toda a sua essência, as mães também precisam mudar. A construção de uma parentalidade requer mudanças nos papéis. Mãe e pai são a dupla de cuidadores dos filhos, participam igualmente da rotina, colaboram mutuamente, reconhecem e discutem limitações, expectativas, omissões, erros e acertos. Validam um ao outro junto ao filho. E nós, que somos os avós, não podemos aceitar, nem buscar, o lugar de dupla cuidadora junto à mãe. Esse papel não é nosso. Podemos ajudar quando solicitado por ambos, mas nunca desacreditar na capacidade do pai em estar com o filho.

Se o rabo de cavalo da filha ficou torto ou com fios caídos, se a roupa escolhida para vestir na criança não prima pela harmonia visual, não importa. O que vale são a experiência vivida entre eles e as lembranças construídas na rotina. Nada mais importante para uma criança do que a certeza de que pai e mãe são capazes de cuidar, de proteger, de amar. Confiar nos dois para enfrentar o desafio de crescer.

Sorte das crianças que experimentam a parentalidade coesa. Pelo bem de nossos filhos, e netos, vamos acreditar que os pais são capazes. O pai que abrir mão dessa experiência, deixará um vazio não possível de ser preenchido por mãe, avós, tios. Pai sempre será pai, por presença, ausência ou omissão.

Nem divindades nem coadjuvantes, nem Marias nem Josés. Apenas pais, construindo juntos a parentalidade.

Que hoje, Dia dos Pais, se reconheça e se celebre todos aqueles que vivem o desafio de se construir na parceria com as mães e na troca de afeto com os filhos. A qualquer tempo.



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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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