Maria Avelina Fuhro Gastal
Domingou. Mesmo em tempos tão iguais, hoje, o Domingo teve um sabor diferente.
Dormi um pouco mais, o que, para mim, tem a ver com acordar um pouco depois das 7 horas. Fiquei de preguiça na cama, com frio, sem coragem de sair debaixo dos cobertores. Terminei um livro, joguei no celular, fui fazendo tempo até resolver encarar o frio fora do quarto.
Coragem para a caminhada custou a chegar. Esperei o sol se fazer mais forte. Saí perto das 11 horas, ainda encolhida e encasacada.
Fui recepcionada por um dia radiante, de céu azul, sol gostoso, sem vento. Percorri a meta estabelecida e continuei, sem pressa para voltar. Não eram mais os passos ou os quilômetros percorridos que importavam, e, sim, o prazer de caminhar, ser aquecida pelo sol, observar flores, árvores, detalhes de casas que sempre passo quase sem ver.
Uma alegria que já nem me lembrava. Havia nela esperança até então esquecida. Se Sexta-feira nos mostrou uma cara feia, o Sábado nos mostrou que o sol brilha, mesmo quando a véspera aposta que não.
Gosto de chuva, odeio tempestades. Aprecio o vento, temo o vendaval. Convivo bem com a alternância entre chuva e sol, mas não tolero destruição. Vivo em um país solar que cobriu a luz com a intolerância e o ódio e semeou mortes. No Sábado, as lágrimas, o cansaço e a desesperança reencontraram a voz para gritar contra a opressão e a perversidade. Hoje, Domingo, as vozes me acompanhavam na caminhada e me davam energia para prosseguir.
Ainda teremos tormentas, mas elas não terão poder de silenciar a inconformidade. Farão mortos, mutilados e, por eles, e por nós, denunciaremos. Há quem vibre, apoie e sustente o mau tempo e queira fazer dele permanência. Dependerá de nós encontrarmos um guarda-chuva amplo o suficiente para acolher quem não aceita a manutenção da destruição.
Caminhei por quase duas horas. Voltei aquecida, sem um dos casacos, cantando as músicas que ouvia pelo aplicativo. Voltei acreditando na possibilidade de mudança, na nossa opção pela vida, acima de tudo e de todos.
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