Maria Avelina Fuhro Gastal
Organização demais me bagunça. Caixas, etiquetas, envelopes classificados por tema, data, fotos com legenda, roupas enfileiradas por cores são para mim a decretação de uma vida igual, linear, sem solavancos, nem surpresas. Uma vida em morte.
Sou mais do imprevisto, do inesperado. Para alguns, vivo no caos. Para mim, me entrego para a vida. E nesta entrega, me tornei especialista em CoAchar. Procuro a camisa branca, acho a azul que já nem me lembrava. Visto algo diferente daquilo que tinha planejado e me sinto deslumbrante em uma roupa velha, mas nova por ter sido esquecida na desordem das cores do meu armário. Vasculho a casa atrás da chave do carro, encontro moedas para o parquímetro ou de viagens ao exterior. A desorganização me leva a soluções inesperadas ou lugares esquecidos. Posso procurar por uma receita de doce e me encontrar em uma foto no colo de vovó, ou procurar uma foto dos meus primos e achar uma receita de doce com a letra da minha mãe. Vivo e revivo momentos aleatórios. Com eles reencontro emoções que vagueiam em liberdade, sem rótulos ou defesas.
Desorganize-se. Rasgue as etiquetas, embaralhe as fotos, desamarre a vida. Liberte-se. CoAchar é encontrar aquilo que nem lembrava estar perdido, enquanto procura algo banal.
Essa crônica faz parte do livro Por cima é Millôr e foi lida no Sarau da Santa Sede de lançamento da coletânea em 31 de outubro de 2019 no Apolinário Bar (lembra daquele tempo que a gente podia aglomerar e estar na rua, nos bares, nos cinemas?).
Terminada a leitura, uma moça veio me agradecer por ter encontrado alguém que falava por ela e que entendia que a ordem não é importante.
Na crônica do dia 07 de fevereiro, Verdade difusa, eu afirmo que crônica é ficção, portanto desconfiem da veracidade.
Faça a sua aposta, Coachar faz parte do meu way of life ou não?
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