Aos dezoito segundos de 2021


Maria Avelina Fuhro Gastal

Aos dezoito segundos de 2021. Não estou falando da primeira criança que nasceu no Brasil nem da primeira morte por COVID-19 no novo ano.

Aos dezoito segundos do ano que se iniciava, o primeiro acesso à página em que publico meus textos. Não sei se foi homem ou mulher, se foi familiar, algum amigo, amiga ou um seguidor habitual das publicações. Talvez alguém que, por acaso, encontrou a página na Internet e clicou. Não sei que texto leu, ou se foi mais de um, nem quanto tempo permaneceu navegando, mas foi aos dezoito segundos do ano novo.

Impossível não pensar que esta pessoa estava sozinha, e acordada. Pode ser que por opção ou por contingência face à pandemia. Mas também é possível que por solidão.

Terá lido o texto do dia 31? Se ela aceitou meu convite, pudemos brindar a virada com um fio de esperança. Se preferiu ler outro qualquer, terá acessado os mais leves ou aqueles em que a dureza dos dias transpareceu na escrita?

Dezoito segundos do novo ano, alguém que não sei quem, nem o que acessou, começou 2021 lendo um texto meu. De repente, me senti responsável pela forma com que ela iniciou o ano. Percebi que aquilo que escrevo e publico tem mais peso do que eu poderia imaginar. Não gostaria que ela tivesse se sentido triste, desesperançosa, solitária, agredida ao me ler, principalmente em um momento em que, mesmo com todas as dificuldades, buscamos algo que nos faça acreditar na possibilidade do melhor.

Não sei que efeito causam meus textos, a não ser que a pessoa comente no site ou pelas redes sociais. Nas crônicas, mesmo que haja ficção, estou mais presente do que nos contos. Assumo o risco de desagradar. Às vezes, minha crônica incomoda, talvez até agrida. Em outras, diverte. Ou comove. Há sempre alguém do outro lado, com vivências e emoções diferentes das minhas. Não desconsidero o leitor, mas não escrevo para que concorde comigo. A discordância respeitosa promove avanços. Escrevo com cuidado, revisando o texto, buscando a melhor forma de expressar a ideia, escolhendo palavras. É desse jeito que respeito a quem me lê. O que penso e escolho escrever é um respeito a mim. Aquilo que escrevo é diferente daquilo que é lido.

Mas, o acesso de um texto meu aos dezoito segundos do ano que se iniciava, me fez desejar que minha escrita tenha feito bem à pessoa que leu. Que tenha sido melhor para ela ao ler, do que para mim ao escrever.

Não importa quem, como, mas fui escolhida por alguém como companhia na virada. Torço para que tenhamos tido bons momentos. Talvez nunca saiba quem foi nem mesmo ela retorne à minha página e leia esta crônica. Desejo não a ter desapontado e que 2021 se faça mais leve para que eu possa brincar mais na escrita. Na vida. E ela também. Todos nós.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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