Maria Avelina Fuhro Gastal
Escrever não é fácil.
A dificuldade vai além do cuidado com a gramática. Passa pela escolha das palavras, pelo efeito que se busca, pela clareza nas ideias. Nem mesmo a inspiração é o maior problema. O mundo está repleto de situações, imagens, detalhes que rendem histórias, basta enxergarmos além daquilo que os olhos veem.
O nó está na escolha do tema. Na crônica, ele aperta. A maioria espera por um texto curto, leve, melhor, ainda, se divertido. A realidade está difícil. Sabemos por vivê-la, não precisamos ser lembrados das dificuldades ao acessar algo para ler. Chegamos, então, ao maior desafio da escolha, o respeito ao leitor.
O cronista, na maioria das vezes, fala do cotidiano, das vivências. O que escrevo traz a minha visão, mas não deve, jamais, desprezar ninguém. Qualquer profissional deve exercer seu ofício com o máximo de respeito e consideração pelo outro. Você, com certeza, faz isso. Por que, então, o presidente não o faz? Não o elegi, mas ele preside o país em que nasci e vivo e não um clube de tiro formado por homens que precisam afirmar a masculinidade pela agressão, desrespeito e violência. Essas questões Freud já explicou.
Desculpem se hoje não consigo ser leve. Foi muito em poucas horas. Se ver vencedor pela suspensão dos testes da CORONAVAC devido à morte de um voluntário, ameaçar com pólvora (inventada pelos chineses) em vez de fazer do diálogo a arma para avanços, chamar os brasileiros de “maricas” (de novo a fixação já explicada pela psicanálise) pelo temor ao vírus que já matou mais de cento e sessenta mil brasileiros é um descalabro tão imensurável que me impede de escrever algo que não esteja relacionado a isso.
Não se trata de ideologia. Trata-se de humanidade. Homofóbico, rude, grosseiro, é de praxe. Se ver vitorioso em cima da morte de alguém, é abominável.
Calada sou cúmplice. Calados, concordamos. Temos problemas, somos desiguais, racistas, classistas, mas nunca pensei em nós, brasileiros e brasileiras, como bestas desumanas. Não podemos permitir que ele nos torne irascíveis. Nem mesmo aqueles que nele votaram merecem tamanha vergonha
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