Maria Avelina Fuhro Gastal
Ando com sintomas de idade. Manifestam-se sempre que uma viagem se aproxima. Lido com a ansiedade de enfrentar maquininhas de bilhetes de metrô, reservas on line, interruptores de hotéis, sistema de pesagem de frutas. Temo ficar irremediavelmente empacada no trivial.
Esses sintomas desaparecem quando volto. Pelo menos era assim que eu pensava até a última consulta ao oftalmo para regular o maldito óculos que preciso para não comprar produtos vencidos.
Tão logo me identifiquei na recepção do prédio, fui direcionada para o elevador que me levaria ao consultório. A porta fechou, o elevador subiu e uma voz atenciosa informava os andares em cada parada. Tudo muito civilizado. Finalizada a consulta, me dirigi aos elevadores para alcançar a rua. Pânico! Não havia um botão de sobe e desce. No lugar um painel com números de 0 a 9 onde eu deveria digitar meu destino. Nenhuma letra T de térreo, nem P de piso, nem R de rua, muito menos L de liberdade. Ou M de merda.
Nesse momento, descobri que elevador te leva para cima, para baixo e à loucura.
Digitei 00. Para mim, o térreo é ausência de andares. Para eles não. Surgiu uma mensagem de erro. Quem deu a eles o direito de dizer que minha lógica é um erro? Já transpirando, apertei o número 01. Erro de novo. Pensei que talvez fosse um bom momento para fazer exercícios e descer pela escada. Desisti. Um dos sintomas inexplicáveis é exatamente uma dor no joelho esquerdo ao descer escadas.
Como ato final, arrisquei 1. Uma luz mágica me indicou que deveria tomar o elevador número 5. Na dúvida, me posicionei bem no vão intermediário entre os elevadores, assim teria tempo de correr e pegar o primeiro que abrisse a porta. Sabia eu lá qual era o elevador número 5.
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