Em busca da serenidade


Maria Avelina Fuhro Gastal

Há alguns dias, comentei com um amigo a dificuldade que estava tendo para organizar as minhas ideias para escrever um texto sobre este período de festas. Ele sugeriu que, talvez, Luc Ferry pudesse me ajudar. Aceitei a dica. Aumentei minha confusão.

Desisti de colocar as ideias em ordem e resolvi escrever assim mesmo. Quem me conhece sabe que abrir mão das coisas ordenadas, classificadas, etiquetadas e arranjadas está muito longe da minha zona de conforto.

Não vou discorrer sobre as ideias de Luc Ferry, só pincelar aquilo que me tirou do eixo. No Fronteiras do Pensamento ele falou sobre o que é uma vida boa. Entre todas as hipóteses até hoje estudadas, há em comum a ideia da harmonia. Para ele, "...duas revoluções, a do amor e a do transumanismo, ...dão sentido à nossa existência: o amor, que dá sentido à vida e o aperfeiçoamento de si mesmo, não para olhar para o próprio umbigo, mas para alongar os horizontes e se relacionar mais com os outros". Ainda para Ferry, não temos como atingir a felicidade, mas podemos alcançar a serenidade. Combate o pessimismo e afirma que é o medo que nos impede de amar aos outros e sermos livres.

Tudo isso em meio a esse período de festas, ou de tristezas e saudades, quando as ausências se fazem mais presentes, as metas não atingidas saltam aos olhos e buscamos em um novo ano a esperança e a força. Seja vestindo branco, amarelo, vermelho ou qualquer outra cor, pulando sete ondas, comendo uvas e lentilha, evitando comer animais que cisquem para trás, fazemos de tudo ou qualquer coisa para transpor nosso medo de uma vida sem sentido.

O que para mim teria de diferente este período se eu conseguisse incorporar o pensamento de Luc Ferry no meu cotidiano?

O mesmo amigo que me sugeriu ler Luc Ferry tem características que admiro. Fotografa gotas em galhos, cria legendas para fotos da natureza com muita sensibilidade, enxerga detalhes onde não vejo nada, mistura tintas e natureza, trazendo vida ao que parecia morto e presenteia os amigos com essas transformações. Jamais o vi fazer qualquer comentário ofensivo ou ácido. Será isso a serenidade? Encontrar nos detalhes a beleza e dar a eles um significado?

Estou muito longe desse estado de serenidade. Vejo que tenho muito mais felicidade do que serenidade. O que pode ser péssimo, pois só a serenidade me fará ter a vida boa, afastando os medos que cercam todos os momentos de felicidade. Medo de que terminem, medo de perder alguém, medo de não ser amada, medo de engordar, medo de me faltar dinheiro, medo de morrer, medo de viver intensamente.

Não é um período fácil para começar a buscar minha serenidade, mas o desafio faz com que eu queira treinar, pelo menos.

Então, não terei todos que amo nas festas. Nunca mais será assim. Mas os que não tenho comigo, tenho em boas lembranças. Estarei com muitos, nem todos, da minha família; no Natal, na minha casa, o que amo, no Ano Novo na praia o que também amo. Farei um esforço para que a bebida esteja gelada, a comida boa e o astral alto. Construiremos mais uma lembrança para acompanhar os que sobreviverão a nós. É da vida.

Não decidi que cor vestirei na virada do ano. Quem sabe misturo branco com vermelho? Comerei uvas e lentilha, que eu não gosto, pularei ondas, acreditarei nas possibilidades. Mesmo que seja apenas uma troca no calendário, por que não fazer disso um momento de alegria, descontração, brincadeira e esperança?

Que venha o Natal, que venha 2020, que venha tudo que há para ser vivido, que se vá o medo e que dê lugar à serenidade. Para mim e para cada um de vocês.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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