No lugar do outro


Maria Avelina Fuhro Gastal

Ser sensível à dor do outro é uma questão de respeito e humanidade.

Impossível sabermos o que ele sente. Uma vez um amigo, que vivia uma situação de muito sofrimento, me disse que a resposta que mais o havia tocado foi a de uma amiga dizendo que nem conseguia imaginar o que ele estava sentindo.

Talvez ele não saiba, mas aquilo me marcou muito. Quantas vezes dizemos que imaginamos pelo que o outro está passando? Imaginar não é viver. A realidade nos protege, nos ancora e alivia. Viver a situação não nos oferece trégua. Estamos jogados em uma avalanche de acontecimentos e sensações que nos debilitam e, muitas vezes, nem nos dão espaço para perceber o tamanho do que sentimos.

Todos nós já passamos por perdas, por rompimentos, por traições, por abandono, por desamor. Mas a intensidade dessas situações para cada um de nós é única. Não há racionalidade que faça amenizar a dor, o vazio. Para mim, melhor o silêncio, o abraço, a presença, o olhar carinhoso e cúmplice que me faz ter certeza de que a minha tristeza não vai me afastar daqueles me restam. Poder suportar o sofrimento de alguém é a maior demonstração de respeito e amor.

Mas o que fazer quando o sofrimento do outro passa pela desigualdade e injustiça social? Temos treze milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. Abaixo da dignidade humana, abaixo de qualquer possibilidade de sonhar, de planejar, de projetar uma vida. Enquanto planejamos nossas próximas férias, viagens, eles não têm como prever a próxima refeição. Nessa situação não cabe o silêncio, ele é conivência. Não recebem o abraço, a presença, o olhar carinhoso e cúmplice, pois nós os tornamos invisíveis. Eles estão entre nós, mas não os vemos, não os escutamos, não os percebemos. Não temos a menor condição de nos colocar no lugar deles, nem mesmo de imaginar. Perdas, desamores, traições, rompimentos fazem parte da nossa vida, a fome não.

Eu, como você, também levo minha vida pelos parâmetros da classe em que vivo, da realidade que me rodeia. Mas, às vezes, me angustio com o que sei, mas não enxergo. Nesses momentos penso de que forma poderia, não me colocar no lugar deles, mas agir de forma que eles pudessem ocupar o lugar que todo ser humano deveria ter por direito. Não encontro resposta.

O pior é que a cada minuto sem saber o que fazer, algum deles morre de fome ou por indiferença, o que dá no mesmo.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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