Maria Avelina Fuhro Gastal
Nada me surpreende. A apologia a Ustra durante a votação do impeachment de Dilma já mostrou o caráter, ou a falta dele. O que veio depois não poderia ser diferente. O que mudou é que, agora, a figura ocupa o mais alto cargo de representação do país. Eleito.
Uma campanha de ameaças com eco no desejo de muitos que escolheram um discurso de combate à corrupção para mascarar aquilo que sabem ser vergonhoso, desumano.
Desistiram da máscara. Não importa que cheques sejam depositados na conta da senhora casada com a figura eleita, ou que contas pessoais dos filhos dele sejam pagas em dinheiro vivo, ou que uma loja de chocolates esteja coberta de lambança, menos ainda que por trás das quantias, ou do gerenciamento de um sistema de rachadinha do gabinete do filho da figura eleita, esteja Queiroz, desaparecido por tanto tempo, alojado na casa do advogado da família em questão. Tudo aceitável.
Querer dar uma porrada na boca de um jornalista por ter feito uma pergunta que exige resposta é visto como enfrentamento de uma imprensa danosa. A mesma imprensa que alimentou o discurso de ódio que justificou a opção de voto. Pelo menos para salvar as aparências. Não deve ser fácil admitir-se racista, misógino, fascista e apoiador de censura e tortura. Não era.
Em uma postagem nas redes sociais li “melhor um mau (com u mesmo) educado do que um corrupto”. Bem ou mal educado aplica-se a crianças. De adultos, espera-se civilidade e respeito. No caso da figura eleita, respeito ao profissional, ao povo, à Constituição. Temos o direito de ter explicado porque a esposa dele recebeu R$89 mil de Fabrício Queiroz. Defendam a informação com a mesma veemência que defendem os absurdos. Afinal, se não há problema nem corrupção, não há o que esconder. Ameaça de porrada é manifestação de censura.
Posso não estar surpresa, mas estou assustada. Um susto que não é só meu. Estamos em choque. E assimilamos a barbárie, buscando onde fazê-la caber na nossa indignação. Paralisamos.
Somos maioria. Já éramos e perdemos. E seremos derrotados de novo se insistirmos em fazer cabo de força entre nós, enquanto eles continuam com mãos livres para atrocidades.
Se voltamos na história, temos que buscar as estratégias para superar o momento. Acima das ideologias, temos que garantir a democracia, as instituições, a dignidade humana. Melhor darmos um passo para trás do que cairmos em um abismo de reeleição por mais quatro anos. A luta é contra o que não queremos, o que é impossível de aceitar.
Se brigarmos entre nós, ele se reelege. Somos frágeis, um país de desiguais. Se em quatro anos o dano é enorme, em oito não sei o que restará de força e vida.
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