Maria Avelina Fuhro Gastal
Nosso horizonte não é linha. É cimento.
Ocultamos a junção do céu e terra com tijolos, paredes, muros, viadutos, prédios, vitrines, outdoors.
O olhar não corre solto, é guiado para desejar o que não se precisa, para invejar o que não garante felicidade, para fazer-nos sempre insatisfeitos por aquilo que não possuímos.
Vidros, mármores, colunas, arabescos, sacadas, marquises esforçam-se em uma beleza fria e planejada para nos fazer acreditar que o horizonte não nos faz falta.
Desavisados, ou rebeldes, buscam entre as brechas resquícios de céu e se emocionam com a multiplicidade do colorido e com o ballet das nuvens.
Conformados, aplaudem e fotografam o pôr-do-sol, compartilham nas redes sociais e experimentam a felicidade no número de curtidas, baixando os olhos para a tela e esquecendo-se que para ver o espetáculo, basta levantar a cabeça, direcionar os olhos para longe e deixar as imagens alimentar a alma e não a memória dos equipamentos eletrônicos.
Adaptados, ignoram céu, nuvens, sol, lua, estrelas. Dirigem o olhar para aquilo que ambicionam. As cores são limitadas à paleta que lhes cai melhor, o brilho medido em quilates, a felicidade sentida pela inveja causada.
Todos ignoram o que não é belo. Não enxergam o ônibus superlotado, a criança com fome, as famílias nas ruas em meio ao lixo que produzimos, a periferia abandonada, o esgoto a céu aberto, o tiro mirado na cor da pele.
Obstruímos horizontes focando o nosso olhar no próprio umbigo e a realidade deixa de existir.
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