Maria Avelina Fuhro Gastal
Não há quem não conheça o Velho do saco.
Fomos apresentados a ele pelos adultos que deveriam nos proteger. A imagem dele é fruto da nossa imaginação. Curvado e enrugado, com longos cabelos brancos esfiapados, barba comprida e rala, nariz aquilino com cicatrizes de varíola, unhas sujas e afiadas, hálito de alho, olhos cinzas, dentes amarelados e uma constante baba escorrendo pelo canto da boca. O seu deve ser diferente.
Não ficou no passado. Talvez tenha sido atualizado para evitar a acusação de etarismo e hoje os adultos apenas ameacem com o Homem do saco.
Abuso de autoridade, infringindo medo aos desprotegidos; incapacidade de lidar com questionamentos coerentes; falta de argumentação crível; ignorância completa para enfrentar qualquer conflito ou prazer em dominar pelo terror são possíveis motivos para ele permanecer tão atual, mesmo sendo uma total mentira.
Ele não é o único. Mula sem cabeça, Bicho papão, Comunismo, Bruxa má podem nos perseguir, comer a nossa casa, nos transformar em zumbis, nos afastar da nossa família e amigos, acabar conosco.
O medo é um sentimento poderoso. Ele pode nos paralisar ou fazer com que ataquemos o objeto do nosso temor. Talvez ele também nos cegue e emburreça. Tomados pelo medo, desistimos de raciocinar e, assim, identificar a mentira.
Os incautos, os oportunistas, os perversos usam, e abusam, da mentira para nos controlar.
Permanecemos criancinhas assustadas que dão a mão para quem nos ameaça manipulando nossos medos. O abusador só ataca depois de conquistar a nossa confiança.
Contra a mentira, o conhecimento. Contra a paralisia, o questionamento. Contra a manipulação, a desconfiança.
O medo que deve orientar a nossa vida não pode vir de ameaças mentirosas, mas sim do poder que elas podem ter nas nossas escolhas, se não reconhecidas como jogo baixo para nos dominar e subjugar.
Joguem o Velho do saco, o Bicho papão, o Comunismo, a Mula sem cabeça e a Bruxa má no baú das mentiras contadas para nos manipular e, aniquilar.
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