Maria Avelina Fuhro Gastal
Hoje, 6 de setembro. Cinquenta e um anos se passaram.
Lembro pouco do meu debut. Faz parte das coisas que simplesmente fiz sem nem questionar se era a minha vontade.
Minha vontade era algo que não me parecia legítimo. Virei a rainha do “tanto faz”. O que me fez rainha da mentira. Nunca foi “tanto faz”, primeiro foi “não há espaço para a minha vontade” e, a seguir, “não reconheço minha vontade”.
Em cinquenta e um anos muitas coisas acontecem. São poucas as que reconheço como expressão do meu desejo.
Faltou coragem, rebeldia, aventura, riscos.
Apesar disso, não lamento mais minha impotência. Usei parte desses anos para encontrar minhas vontades. Parte recente, admito, mas, mesmo assim, vital e indispensável.
Não importam as oportunidades perdidas, os caminhos equivocados, os silêncios amedrontados, enquanto vivos temos a chance de escolher outras formas de ser e de estar no mundo.
Talvez os mais desencantados pensem que as rugas, a idade, o tempo, as perdas, as mágoas e as dores acumuladas impeçam a construção de algo novo. Pode ser que o cansaço e a tristeza suguem qualquer possibilidade de revigorar a energia que nos impulsiona.
Cinquenta e um anos depois daquela noite de 6 de setembro de 1973 acredito que desistir é escolha.
Se difícil, peçamos ajuda.
São anos de análise que me trazem a chance de experimentar o meu querer. Permitem que eu me arrisque, que eu me proteja, que eu não fique aprisionada a histórias e erros que não são meus. Nem sempre tenho êxito, mas escolho não desistir.
Encaramos o espelho todos os dias. Nele vemos a imagem do que somos agora e nos chocamos. Procuramos aquilo que fomos um dia e não está mais ali. Por que não encarar o que se escondeu dentro de nós? Não voltaremos a ser jovens, mas enxergaremos a maturidade com mais leveza, prontos para nos permitirmos viver.
Poucos de nós terão mais cinquenta e um anos pela frente, mas teremos um amanhã.
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