Maria Avelina Fuhro Gastal
Se entendem empatia como habilidade de colocar-se no lugar do outro, não quero ser empática.
O lugar do outro não me pertence, nem por um momento. Se ali me coloco, levo as minhas verdades, a forma que tenho de sentir, os valores que me compõem. O foco está em mim. Reajo imaginando o que eu sentiria ali, não percebo o que o outro sente. Ignoro o sofrimento dele e passo a pensar em como seria o meu sofrer na situação. Egoísmo travestido de solidariedade.
Se entendem empatia como habilidade em perceber a dor do outro, quero ser empática, sempre.
Não me cabe julgar, definir, nominar, mensurar o que o outro vive. Só posso me esforçar para perceber a dor que cada um carrega em sua história. Não me cabe explicá-la.
Enquanto o centro do mundo estiver em cada um, aonde formos o carregaremos junto e nele não há espaço para mais ninguém além de nós mesmos.
Da mesma forma, a dor do outro não pode ser justificativa para projeções e deslocamentos que se transformam em agressão.
Precisamos aprender a diferenciar segredos de silêncios. O segredo destrói, o silêncio busca em si espaço para acomodar decepções.
Dispensaríamos dar nomes às habilidades se pudéssemos simplesmente nos humanizar.
Cada um de nós convive com dores imperceptíveis. Elas se escondem em nossos sorrisos e conquistas. Tão mascaradas que até nós mesmos perdemos a capacidade de enxergá-las. Ocultas, ou negadas, corroem a nossa possibilidade de prosseguir além delas.
Dores, decepções, tristezas são inevitáveis. Dar a elas a forma de palavras, dando nome aos fatos, nos ajuda a libertar fantasmas. Negá-las é viver assombrado por uma força que conduz nossas ações sem que nem mesmo consigamos perceber o seu potencial de destruição, do outro e de si mesmo.
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