Maria Avelina Fuhro Gastal
Junho, por favor, mantenha-se sereno.
Se tiver que chover, chova o mínimo. Não nos encharque pois não temos mais forças.
Controle o seu frio. Faltam paredes, assoalhos, telhados para aquecer muitos de nós.
Se for nos inundar, que seja com sol, mesmo que tímido.
Enfeite o dia com um céu azul para que possamos ter um pouco de esperança. As noites, ilumine com estrelas para que tenhamos um sono sem sobressaltos.
Não nos julgue pela aparência de nossas ruas, nossos bairros e cidades. Não são entulhos ali despejados. São histórias de vida, memórias afetivas, sonhos, conquistas, restos de muitas casas que já não podem ser habitadas.
Precisamos de trégua para chorar, para recomeçar, para acreditar que um dia tudo isso vai passar.
Se sorrimos pouco, não pense que estamos desgostosos com você. Maio carregou nossa alegria misturada em lama, medo e sofrimento.
Não pense que somos alienados. Somos gente. Antes de discutirmos responsabilidades, precisamos ser acolhidos, acarinhados, aquecidos. Maio fez de nós lutadores pela sobrevivência, tirando tudo que nos dava sensação de segurança.
Bem, ninguém está. Em situação de desespero, somos incalculáveis.
Precisamos de um momento para enterrarmos os mortos, para lamentar a destruição de nossas vidas.
Não nos faça ter que trocar o choro de desabafo por novos gritos de socorro.
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