Maria Avelina Fuhro Gastal
Linha, imaginária ou não, que delimita um lugar, um corpo, uma superfície. Esse é o primeiro significado que aparece para o termo periferia em uma pesquisa do significado da palavra na Internet.
A linha escolhida pela nossa sociedade não é imaginária. O traçado é firme. Utiliza-se do racismo, da exploração do trabalho do outro, da desvalorização de culturas, do cerceamento de direitos, do apagamento de fatos históricos para erguer barreiras.
Supomos o centro nas nossas crenças, etnia, poder aquisitivo e aparência. A rua, o bairro, a cidade, o estado, o país são nossos. Quem não é a nossa imagem e semelhança, está fora.
Pensamos ser deuses.
Somos hipócritas. Impedimos sonhos, barramos oportunidades, destruímos autoestimas.
Somos assassinos. Matamos por fome, de frio, por falta de assistência, de saneamento básico.
A periferia é uma construção do capital. Idolatramos o dinheiro, somos indiferentes à vida humana.
Tememos o que criamos. Fazemos deles monstros. Nossa monstruosidade tem respaldo do estado. Jamais responderemos pela nossa conduta frente a humanidade. Não condenamos com veemência o tiro mirado pela cor ou classe social. Não somos o alvo. Exigimos justiça quando nos vemos agredidos ou roubados. Fazemos isso o tempo todo, mas nos escondemos atrás do escudo que a sociedade construída por nós oferece.
Somos fracos e covardes. Não sobreviveríamos às condições que impomos aos outros. Não teríamos forças para criar asas, poesia, organização e solidariedade. Morreríamos logo. Nosso egoísmo nos faria matar ou morrer. Somos ótimos em machucar e um total fracasso em sermos humanos.
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