A verdadeira casa das sete mulheres

Maria Avelina Fuhro Gastal

Eu conheci a verdadeira casa das sete mulheres. Trago elas comigo. Muito menos pela genética, muito mais pelo que elas nos ensinaram ao longo da vida.

Construíram em Pelotas essa casa repleta de significados independente do endereço ou espaço que ocupasse.

Vieram para o sul deixando a vida que conheciam. Nela ficaram irmão e pai falecidos, amigas, bonecas. Seis meninas, a mais velha com doze anos, a menor com apenas um ano, e a mãe delas. Uma mulher de um metro e meio de altura, carregando dores, incertezas e seis filhas para criar.

Era o início dos anos 40. Não havia uma pensão que garantisse o sustento. Mulheres não tinham carreira. Imagino o pavor daquela Pequena senhora, seis crianças e a ruína de uma vida tranquila.

Avançaram.

Sou filha da segunda menina dessa verdadeira casa das sete mulheres. Vim para Porto Alegre aos seis meses de idade. A casa das sete mulheres veio comigo. Cresci dentro dela mesmo a quilômetros de distância.

Cada uma daquelas meninas construiu sua história. Quatro tiveram filhos, duas nunca se casaram. Nós que nascemos delas convivemos com a integralidade daquelas sete mulheres. Sempre existiu entre elas um vínculo, uma conexão, uma força, um elo que não se dissolveu pela passagem do tempo.

Nem todas estão mais aqui. A cada uma que parte, nós que ficamos buscamos essa magia de conexão que elas nos ensinaram.

Desta vez, ficamos impedidos do abraço, do choro conjunto, da despedida. Mas a força delas nos ampara.

Hoje, 01/06, 18 horas, uma missa está sendo rezada. Nenhum de nós pode estar presente. Cada um buscaria uma forma para homenagear quem partiu. Assim nos acalentamos.

Eu escolhi escrever.

Dinda, obrigada por todo o carinho e amor. Queria ter podido estar contigo. Em pensamento estive e estou. E sempre vou ouvir tua voz me chamando de Maria Avelina, todo o nome, sem apelido. São essas pequenas coisas que diferenciam vocês e fazem com que cada uma tenha tanto significado na minha vida.

Fica em paz.

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