Maria Avelina Fuhro Gastal
Agosto não tem boa reputação. Mês do desgosto, do cachorro louco, temido por muitos, odiado por outros tantos.
Agosto não promete festas populares, não nos brinda com praia, chopp e amigos, não nos dá sensação de recomeço nem de final, não nos presenteia com feriados. Nem o Dia dos Pais salva o mês. É mais fácil perdoar falhas das mães do que desculpar a ausência física, financeira ou emocional dos homens na vida dos filhos.
Para complicar são 31 dias, sem trégua.
Entrou agosto e o ano pesa. Agosto é limbo. Mesmo que o clima enlouqueça, não tem temperatura elevada que nos faça chamar de “veranico” de agosto, essa é uma prerrogativa de maio.
Mau agouro, bruxas soltas, e o nosso humor ganhando cores cinzas. Tudo que incomoda, cresce.
Precisa ser assim?
O mundo já está uma droga. Fazê-la ainda maior só porque é agosto não vai ajudar em nada. Ranço, queixa e reclamação não determinam ações.
Independente do mês, não está fácil:
- olhar para as nossas ruas apinhadas de pessoas sem teto, sem nenhuma condição de vida digna,
- ver chacinas serem desculpadas por autoridades da segurança pública,
- saber do depósito por Pix de uma quantia absurda para o inominável, enquanto ações voluntárias para aplacar a fome de tantos têm enfrentado falta de recursos.
Não estou tentando piorar o dia de vocês. Não importa o mês, o quão ruim tudo esteja, só teremos forças para agir se não sucumbirmos.
Manter-se vivo passa pela possibilidade de nos nutrirmos de prazeres, alegrias, experiências gratificantes. Se sucumbimos, morremos em vida e nossa inércia contribui para a permanência do que é inaceitável.
Para agir, gritar, protestar, se indignar, lutar precisamos da força que vem daquilo que nos faz bem.
Unir memória e sentidos, abrir espaço para a surpresa, cultivar a possibilidade de se encantar pode nos fazer persistir, apesar do cansaço.
Em época de séries, proponho uma a vocês. Chamarei de “Dos pequenos grandes encantamentos”. Na vida, somos agosto. Empilhamos dias. Nem sempre somos festa, celebração ou alegria.
Esperar pela grandeza de um momento, de um encontro, de uma surpresa nos impede de apreciar aquilo de pequeno que nos faz bem.
Perceber o que há de encanto nos dias depende de permitirmos que nossos sentidos experenciem a vida além da rotina.
Ressignificar agosto é dar nova ferramenta à forma de encarar nossos dias.
Farei o exercício de ativar meus sentidos. Transformarei em texto minhas descobertas e sensações.
Já há algo de novo no meu mês: crônicas em série, seguindo um tema. Não sou Netflix, mas quem sabe esse pré-lançamento também desafie vocês a um outro agosto.
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