Maria Avelina Fuhro Gastal
Quem me conhece sabe o quanto me coço. Braços, olhos, nariz, rosto, barriga reagem a odores, temperos, temperatura, troca de estação, stress, tecidos sintéticos, pelos, plantas e outras coisas que não identifico. Caso típico de alergia ao mundo. Até um anti-histamínico já me provocou crise de urticária.
Em qualquer procedimento médico, recebo uma pulseira identificando possibilidade de reação alérgica. Portanto, quando colocaram em mim uma pulseira para a realização de exames de rotina, não estranhei.
Cheguei em casa, tirei a pulseira, deixei ao lado do computador e fui fazer outras coisas. Somente quando fui pegá-la para colocar no lixo, li o que estava escrito.
RISCO DE QUEDA. Como assim? Baseado em quê?
Tenho certeza de que não estava de salto alto, não tenho marcha claudicante, não estava de muletas ou bengala, não precisava de nenhum apoio para caminhar, não tropecei ao chegar, me levantei da cadeira, quando chamada, sem me desequilibrar. A explicação é óbvia: etarismo.
Se dependesse da política daquela instituição de saúde ou do olhar julgador da atendente, Caetano Veloso só seria autorizado a cantar sentado em uma cadeira (nunca em uma banqueta) para evitar que rebolasse e viesse a fazer uma fratura de quadril, Mick Jaeger só cantaria balada romântica de base depressiva evitando qualquer movimentação no palco que pudesse provocar uma fratura de fêmur.
Parem de nos desrespeitar. Pode parecer cuidado, mas é mais uma forma de preconceito em uma sociedade que desvaloriza quem deixa de ser jovem e só enxerga rugas e cabelos grisalhos como decadência.
Mais do que ninguém queremos estar bem. Estar ativos. Nossos limites são estabelecidos por nós mesmos. Não jogo mais vôlei nem faço jump por respeitar meus joelhos, continuo com a zumba, o jazz, as caminhadas por prazer, por vontade de viver.
Não somos bibelôs nem entulhos. Somos pessoas com alguns anos de vida a mais. Torçam para chegar lá também e para serem respeitados pela sua trajetória, experiência, conquistas e história.
Jovens, não esqueçam, nós já fomos como vocês e, se tudo der certo, vocês ainda serão como nós.
Não usem meu pulso para me rotular. Nele só cabem a minha tatuagem da folha de plátano e as pulseiras que eu escolher usar.
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