Maria Avelina Fuhro Gastal
A eleição será definida pelo voto dos indecisos.
Nenhum tema alcança tanto os eleitores como o da corrupção. Nem mesmo a inoperância e descalabros para o enfretamento da Covid-19 ou Pazzuello não teria sido eleito.
Para o senso comum, a Lava Jato foi a maior operação de combate à corrupção e Moro o paladino que desmascarou esquemas milionários. Tanto que, apesar de todas as derrotas no STF, foi eleito Senador.
Nada foi mais estratégico que a presença dele no debate da Band ao lado do candidato à reeleição. Reviveram a imagem de 2018 para requentar um discurso esvaziado nos últimos quatro anos.
Moro mostrou seu lado, que não deveria existir na posição de Juiz, ao aceitar o cargo de Ministro da Justiça no Governo do “Não sou coveiro”. Ficou até abril de 2020, quando saiu acusando o presidente de interferência na Polícia Federal. Há inquérito tramitando. Admitiu que Lula e Dilma jamais interferiram nas investigações da Lava Jato.
A partir daí, manifestou-se contra o atual presidente diversas vezes. No discurso de filiação ao Podemos, novembro de 2021, tentou se apresentar como opção para a terceira via e disse, textualmente: “Chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha, chega de orçamento secreto.” Recoloca-se como paladino do combate à corrupção ampliando a questão para além dos governos petistas.
Em janeiro de 2022, Moro disse: “Mente. Não é digno da Presidência da República.” Referia-se a Bolsonaro. Em fevereiro de 2022 chamou os dois candidatos que estão no segundo turno de ladrões.
As cobras se reaproximaram para dar o mesmo bote: tirar de Lula a chance de vencer e voltar a presidir o país. Ora, se a luta de Moro fosse o combate à corrupção, ele jamais estaria de papagaio de pirata, em programa de repercussão nacional, do candidato que ele mesmo acusou de interferir na Polícia Federal, de esvaziar a Lava Jato, de mentir e afirmou não ser digno de ocupar a Presidência da República.
O candidato à reeleição e Moro apostam no canto da sereia para atingir objetivos pessoais que nada tem a ver com melhorias para a sociedade. Colam-se à imagem de combate à corrupção, enquanto o atual presidente reiteradamente esvazia os mecanismos de controle e investigação e decreta sigilo de 100 anos para diversos de seus atos. Se não há crime, por que sigilo? E Moro apoia em troca, talvez, de uma indicação ao STF ou da possibilidade de ser o candidato à Presidência em 2026. O marreco não se cansa de ser pato do bolsonarismo.
Lula e Alckmin sempre foram adversários políticos, mas jamais acusaram-se mutuamente de crime. Uniram-se como alternativa à extrema direita, com apoio, no segundo turno, de intelectuais, de artistas, de Tebet, de Ciro, de Joaquim Barbosa, de Amoedo, dos “pais” do Plano Real, de FHC. A terceira via se concretiza na chapa Lula/Alckmin. Moro acusou o candidato à reeleição de crime ao tentar interferir nas competências e comando dos órgãos de investigação. Alia-se a ele e torna-se cúmplice.
Não há como não se opor à corrupção. Todo brasileiro e toda brasileira dignos, honestos e trabalhadores estão cansados de ver escândalos que tiram de programas sociais quantias milionárias para beneficiar alguns. Cada tostão desviado é uma agressão que aprofunda miséria, fome, desigualdade. Queremos a investigação, denúncia, julgamento e punição dos envolvidos. Para isso, precisamos de instituições fortes, sem a interferência dos investigados, sem o dedo daqueles que operam rachadinhas, que compram imóveis, em dinheiro vivo, incompatíveis com a sua renda.
As sereias usam seu grande poder de atração para que as pessoas caiam nele sem resistência. Uma vez atraídas, morrem afogadas. Já conhecemos essa estratégia e vimos o resultado. Em cem anos não estaremos mais aqui, nossos descendentes, sim. Não quero ser lembrada como ingênua que se deixa enganar ou como boba por ir atrás de sereias que já mostraram ser, também, cobras venenosas.
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