Maria Avelina Fuhro Gastal
Trinta e oito anos depois, o mesmo lugar. Nesse intervalo de tempo cabem histórias, experiências e aprendizado. Se em 1984 queríamos votar para Presidente, em 2022 queremos voltar a ter Presidente.
No palanque do Comício pelas “Diretas Já” as ideologias abriram espaço para a defesa única da democracia. Ali cabiam todas as cores sob o verde e amarelo da bandeira do Brasil. Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Lula, FHC, Sarney, Brizola discursavam em prol de um objetivo único: o estabelecimento de eleições diretas para Presidente.
A Emenda Dante de Oliveira, que alteraria a Constituição para permitir o voto popular para o cargo de Presidente, foi derrotada. No entanto, a voz popular se fez pressão e, em 1989, elegemos pelo voto direto o primeiro presidente desde 1960. Vinte e nove anos sob um regime ditatorial, exercido pelos militares com amplo apoio de setores da sociedade civil.
Viver a democracia é lidar com as diferenças, é conviver com o ganhar e perder, é reconhecer a legitimidade de outras posições que não a nossa, desde que tenham como fundamento o respeito à democracia.
Ainda estamos aprendendo. Às vezes, é necessário retornar para poder avançar. Estamos, de novo, lutando por um país democrático. Olhar o palanque das “Diretas Já” nos mostra que a defesa desse direito cidadão passa pela superação das diferenças ideológicas.
Muito se falou na construção de uma terceira via para não haver polarização na disputa eleitoral. Ela aconteceu na composição da chapa Lula/Alckmin. Adversários políticos, entenderam que o caminho para a derrota da barbárie se dá pela união de esforços.
Estamos a sete dias das eleições/2022. As ameaças de não-aceitação do resultado das urnas já começaram. Isso indica tentativa de golpe em andamento. Acontecerá no primeiro ou no segundo turno das eleições. A diferença é que a derrota em primeiro turno enfraquece qualquer movimento que esteja sendo articulado, questionar as eleições afeta milhares de candidatos eleitos pelo país afora.
Se você é eleitor de Ciro ou Simone, ou de qualquer outro candidato que se norteie por princípios constitucionais, não há dúvida do seu compromisso com a democracia. Não estamos em campos opostos. Nesse momento, ansiamos pelo mesmo, a volta da normalidade institucional no Brasil e o exercício da presidência de forma republicana. Que bom seria se pudéssemos estar aprofundando o debate para fazermos a escolha daquele que melhor nos representasse. Mas, não. Estamos escolhendo a possibilidade de ampliar a discussão sobre o país que queremos construir. Se não o fizermos no primeiro turno, corremos o risco de sermos calados pelo ódio, pela censura, pela perversidade do atual governo.
Não há espaço ou tempo para projetos pessoais que visem às eleições de 2026. Sem uma resposta forte nas urnas talvez nem tenhamos possibilidade de votar para Presidente por quem sabe, mais 29 anos.
Vote para Presidente pela garantia da DEMOCRACIA. Escolha para as Casas Legislativas os candidatos afinados com sua forma de pensar o País.
Não defendo o voto útil. Defendo o voto estratégico que encerra a defesa de um bem maior.
Trinta e oito anos depois, voltei ao Largo Glênio Peres movida pelo mesmo princípio, a defesa de um direito é maior do que o apoio a qualquer candidato. Votaria em qualquer um que tivesse a possibilidade de vencer o inominável. Votaria por mim, pelos meus filhos, pelo futuro dos meus netos, pelos mortos pela inoperância do governo federal no combate à Covid, pelos ambientalistas assassinados, pelos indígenas ameaçados e mortos, pelos desempregados, pelos famintos, pelos sem-teto e sem esperança, por todos e todas desrespeitados constantemente seja por causa da cor da sua pele, da sua classe social, do seu gênero, da sua orientação sexual, da sua opção religiosa, da sua posição ideológica.
Sete dias. Cento e sessenta e oito horas. Cinco mil e quarenta minutos. E pensar que décadas dependerão do número que digitarmos na cabine de votação.
Se o seu antipetismo não o deixa enxergar além da estrela na composição da chapa Lula/Alckiman, não permita, novamente, que o ódio continue destruindo o nosso povo e o nosso país. Vote nulo. Não deixe que seu voto em branco, contado como voto válido, beneficie a permanência, por mais quatro anos, do maior desastre político da nossa história.
Chega de tanta vergonha, tanta perversidade, tanto extermínio, tanto desrespeito. Não somos lixo. Somos brasileiros. O verde e amarelo é nosso também. E é com essas cores que comemoraremos a vitória da esperança sobre o ódio.
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