Maria Avelina Fuhro Gastal
Se puder optar, entre na cidade vindo da região sul do Estado pela BR116. Dali temos a visão mais bonita de Porto Alegre e a maior promessa. De longe, avista-se o perfil dos prédios e a chaminé da Usina do Gasômetro. Naquela ponta temos o centro da cidade. Sim, o centro fica na ponta. Se você for para a região geográfica central, estará muito longe do centro de Porto Alegre.
Depois da ponte com vão móvel, siga a saída mais à direita. Em poucos quilômetros ladeará o Guaíba, embora a princípio não seja possível enxergá-lo, pois um muro separa a cidade de um dos seus maiores encantos. Só cuide para não se enganar no caminho. Se quiser ir pelo Guaíba que fica à direita, use a faixa central, pois a faixa da direita o levará para o túnel que não conduz ao lago. Sim, o Guaíba é um lago, mas já foi rio e estuário, portanto simplifique e chame apenas de Guaíba, lago vai parecer esnobe, rio, inculto, e estuário, desatualizado.
Seus habitantes têm uma relação de intimidade com a cidade. Tratam as ruas como conhecidos, ignorando os sobrenomes. Então, como forasteiro, certifique-se que recebeu a indicação correta para chegar a algum lugar. Talvez não tenha ficado claro, vou exemplificar para sua melhor compreensão. Quando alguém daqui lhe disser que fica na Bento, tenha certeza que é na Gonçalves, nunca na Figueiredo, na Martins, na do Amaral, na Nunes da Cunha ou outra qualquer. O mesmo vale para a Getúlio, para a Júlio, para a Sete, para a Siqueira e tantas mais. Das grandes ou conhecidas não temos intimidade com a Alberto; ela será sempre Alberto Bins. Ainda sobre as ruas, a Rua da Praia é aquela que não tem praia e é também conhecida como Andradas, localizada na ponta que é o centro.
A cidade é arborizada, mas com poucas flores. Algumas raízes de árvores invadem as calçadas, levantando as lajes. Cuidado para não tropeçar. Mas não fixe seu olhar apenas no chão. É preciso estar atento ao mundo ao seu redor, não só para apreciar belos prédios, o contraste entre o antigo e o novo, mas também para tentar prever algum possível risco de assalto. Desconfie de duplas, trios, de motos com passageiros na garupa, de mulheres, de homens, de adolescentes. Saia sem joias, relógio, tênis de marca, bolsas grandes soltas no ombro; leve apenas um documento, um cartão de crédito, algum dinheiro para ter o que dar em caso de assalto. Distribua seus pertences pelo corpo, dentro da meia, do soutien, no cós da calça, para garantir que algum deles voltará com você. Sob hipótese alguma use o celular na rua. Se quiser fotografar algo, antes faça uma inspeção criteriosa do movimento em sua volta. Se estiver de carro, mantenha as janelas fechadas e leve a sério as placas com uma arma e a advertência de que aquela é uma região de assaltos.
Você pode usar transporte público para conhecer a cidade. Temos serviço de aplicativos, táxi, ônibus e lotação. De metrô temos promessas e alguns buracos, nada concreto. Melhor ter um aplicativo que o oriente sobre as linhas de ônibus em Porto Alegre, pois nas paradas não há qualquer informação, nem mesmo de quais ônibus passam por ali. A lotação é uma boa opção, você vai sentado e desce onde quer. Teoricamente elas param para você sem que seja necessário haver um ponto para tal, basta ficar à beira do meio fio e fazer sinal com o braço que elas, se não estiverem circulando pelo lado da via que não tem calçadas em uma relativa velocidade, até param para que você suba.
Cuide com atenção as faixas de segurança para pedestres, principalmente se estiver a pé. É muito fácil ser atropelado em uma delas. Mesmo que um carro pare, tenha certeza de que os de trás não vão desviar, passando pelo lado e atingindo quem ousa estar atravessando na faixa.
Vamos às placas de sinalização. Quase não existem. Nem mesmo as que identificam as ruas. Pense nisso como um desafio e a chance de conhecer lugares nunca dantes imaginados. Interessante, também, é que parece só haver zona sul e zona norte em Porto Alegre. Seria mais ou menos assim, tudo que fica para o lado do Guaíba para baixo é zona sul, tudo que fica para o lado de lá da Protásio (no caso, a Alves), é zona norte. No meio disso, o Centro, aquele da ponta, e bairros com identidade própria, como Cidade Baixa, Bom Fim, Auxiliadora, Moinhos (de Vento), que não fazem parte nem da sul, nem da norte, nem do centro. Quando encontrar alguma placa de sinalização, não crie expectativa de que ela o leve até o destino. Indo para o aeroporto pela Farrapos, você é conduzido pelas placas indicativas até uma avenida de mão dupla, sem nenhuma indicação para que lado deve dobrar para chegar ao aeroporto. Amplie seus conhecimentos, pesquise sobre os arredores de Porto Alegre, daí você vai entender que a placa que indica o caminho para Canoas serve para conduzi-lo ao aeroporto. Se você dobrar para o outro lado chegará em algum ponto da imensa zona norte.
Por último o clima. Embora as estações aqui sejam verão, outono, inverno e primavera, não há garantias de que você não viva todas no mesmo dia. Informe-se sobre a habilidade de se vestir como cebola, em camadas.
Aproveite a cidade. É linda e hospitaleira. E, por favor, apesar da sujeira, não jogue mais lixo nas ruas.
Saudades de ver a Porto Alegre que vai além da minha janela.
Vontade de ver uma Porto Alegre com vida.
Desejo de estar com cada um de vocês.
Superaremos.
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