Positivo operante


Maria Avelina Fuhro Gastal

Sou a louca da máscara. Não saio sem ela, uso em casa quando há mais alguém aqui e, até no carro, mesmo estando sozinha. Na entrada do meu apartamento tem um frasco de álcool em gel, outro no carro, um em cada bolsa, até mesmo na pochete da caminhada. Minha vida social ficou congelada em 2020. Raros encontros com pouquíssimas pessoas, sempre em local aberto ou muito arejado. Não vou a lojas, cinema. Fujo de aglomerações. Supermercado, só em horários de menor movimento.

Minha neta foi a primeira, seguida da minha nora e do meu filho. Eu, firme. Zerada. Do nada, uma dor de cabeça. No dia seguinte, cerca de 450 espirros por hora. Não fosse o positivo deles, jamais pensaria em testar. Nada diferente das crises alérgicas que tenho de março a novembro, talvez, apenas uns 200 espirros a mais. Testei positivo.

Abro mão de tudo, mas de beijar, afofar, abraçar, rolar no chão, brincar, cantar, me aconchegar com os meus netos vai além do que me é possível. Já estivemos tempo demais afastados por conta do vírus, não suportaria continuar assim.

Apesar da idade, cruz na pandemia sob a ameaça de grupo de risco, fui quem teve sintomas mais leves. Sem febre, sem dores musculares, sem tosse, sem falta de ar, sem perda de olfato ou paladar, sem distúrbios gástricos. Fiquei só na dor de cabeça e na quantidade inacreditável de espirros.

Estamos todos bem. Eu, ainda em isolamento. Voltei a ver a vida pela janela.

Do ponto de vista de saúde, superamos sem traumas. Do ponto de vista da existência, todas as feridas ainda não cicatrizadas voltaram a arder. A passagem do tempo foi novamente subordinada ao vírus. Cada dia encerrava a expectativa de melhora e o pânico do agravamento. Impossível esquecer todo o sofrimento e perdas que acompanhamos nesses dois anos.

Mensagens diárias, na realidade, várias. Vídeo chamadas onde até a cor dos meus lábios foi questionada, fazendo com que eu tivesse que buscar um lugar na casa com iluminação adequada para provar que não estavam arroxeados. O medo estava presente em todos nós. Tememos uns pelos outros, por nós mesmos. Tentamos manter as aparências para tranquilizar o outro, que fazia o mesmo pelos outros.

Repito, estamos bem. Sabemos que nem todos têm essa sorte, mesmo vacinados. Não dá para baixar a guarda. A pandemia não terminou, não importa o quanto estejamos cansados disso tudo.

Eu vou continuar de máscara, usando álcool em gel, mantendo distanciamento, evitando aglomerações. Pode haver entre a multidão alguém que, como eu, não imagine que sua alergia, na realidade, seja COVID.

Cuidado por mim, pelo outro, pela comunidade em que vivo, pelas vidas que me cercam. Estamos rodeados por pragas em todos os níveis. Controlá-las ou exterminá-las depende da nossa conduta e responsabilidade. Portanto, fique de máscara, use álcool em gel, evite aglomerações, acrescente o uso de repelente, livre-se da água parada em vasos, pneus e pátios, e vote com consciência social e humanitária.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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