Café com leite


Maria Avelina Fuhro Gastal

Adoro café. Coado, batido, em cápsulas, incrível a diversidade possível vinda daquele grão vermelhinho.

Café é pausa, mas, também adiamento. No meio da correria, um cafezinho nos permite parar e tentar ordenar pensamentos; em um encontro, a desculpa perfeita para adiar a despedida.

Gourmet ou em um copo de vidro à beira de um balcão, sozinho ou finalizando uma refeição, em uma cafeteria charmosa ou em qualquer lugar que tenha uma máquina ou uma garrafa térmica, café é democrático e acessível, não exige grandes fortunas para a degustação, basta um emprego com salário digno.

Cafezinho reúne, acompanha conversas, estimula debates.

Leite jamais é minha opção. Uso nas receitas, misturado aos ingredientes, tornando-se imperceptível em meio a sabores muito mais interessantes. Por vezes, funciona como remédio, aguento um pouquinho se for para aliviar a azia.

Meu voto no segundo turno será café com leite. Para presidente votarei na frente ampla a favor da democracia. Será meu voto “café”. Meu voto leite será no candidato a governador do RS que se apresenta como Leite neutro. Voto com gosto de remédio amargo.

Se estivéssemos vivendo um período de normalidade democrática, ele jamais teria meu voto, ainda mais depois de assumir a neutralidade com relação à disputa presidencial. A neutralidade pregada por ele equivale a uma campanha pró-adversário.

Voto em um leite talhado porque não sou neutra. Tenho como princípio básico a garantia da democracia e, por coerência, não deixarei que minha omissão contribua para a vitória do candidato que tem o carimbo desse governo perverso. Mesmo que o Leite, mais uma vez, coloque seus interesses políticos acima dos interesses da sociedade, ele é a única possibilidade de barrar a extrema direita à frente do nosso Estado. Basta o senador eleito, que já manifestou as manobras que serão feitas para enfraquecer o STF.

Voto nele em nome de um princípio acima de ideologias. Voto com dor e tristeza. Tapo o nariz e engulo para evitar um mal maior. Voto nele para fortalecer a possibilidade de continuar votando e, acima de tudo, voltar a debater ideias e projetos de sociedade.

Se queremos voltar a viver com menos ódio, não há outra opção, voto café com leite. O quanto de café e o quanto de leite você prefere será a medida para daqui a quatro anos. Se tomarmos veneno em forma de voto, aumentaremos o número de vítimas do atual governo. Não pense que você está livre. Sabe-se lá se a cor dos seus olhos, o tom da sua pele, a textura do seu cabelo, a origem de sua família e sua naturalidade não serão motivos de sobra para o aniquilamento.

Meu voto café é com gosto e prazer, o leite, uma tentativa de barrar a extrema direita e dar sobrevida à democracia. Mais do que útil, imprescindível.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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