Fuga premeditada


Maria Avelina Fuhro Gastal

Não cometi crime nem estou encarcerada em uma cela do sistema prisional, mesmo assim, premeditei uma fuga.

Fujo para aliviar o cansaço. Não daquele tipo que precisa de descanso, mas do que precisa de paz.

Quem de nós, minimamente respeitoso, solidário e humano pode dizer que está bem? Não tem como. Desde 2018 um show de horrores e perversão desfila no nosso cotidiano, às vezes de moto, mas a maior parte do espetáculo funesto entra pelos nossos sentidos, especialmente pela audição. Ameaças, agressões, baixarias, desrespeito constante. Isso já era esperado, só não viu quem não quis ou quem se sente representado por todo esse lixo.

Recuso-me a ficar impregnada com essa podridão, mas, confesso, que a luta tem sido constante. Dói em mim ver tantas mulheres apoiando e declarando seu voto a quem as considera inferiores e as ofende sempre que questionado por uma, saber de tantos profissionais qualificados que trabalham pela reeleição de um presidente que jamais honrou a Nação que deveria presidir, reconhecer em tantos que eu tenho (ou tinha) como amigos um lado obscuro que corrobora atitudes, discurso e ações perversas. Não é por ideologia. Se assim fosse, há outras opções no tabuleiro do jogo democrático. É uma escolha pelo escracho, pelo econômico acima da vida, pelo dinheiro acima das pessoas, pela ofensa e aniquilamento daqueles que não são espelho.

Eu, descrente, dei para defender as mensagens ditas de Deus, sem as distorções que excluem os considerados diferentes ou inferiores por aqueles que se julgam mito ou seguidor de um.

Pouco me importa o desempenho sexual de qualquer pessoa, muito menos o de um presidente que necessita afirmar sua virilidade em um ato que deveria ser, no mínimo, de respeito ao país e aos cidadãos. Mas não, ele pensa com o pênis e ejacula pela boca. O cérebro nem assiste, para tanto seria necessário usá-lo com certa frequência, quando usa, é tosco, primitivo, raso.

Meu limite foi ultrapassado há muito. Quero voltar a caber em mim. Então, fujo. Fujo por quatro dias, em boa companhia e livros na bagagem. Vou ao encontro da natureza, do ócio, da possibilidade de alguma paz. Fujo para reencontrar a energia que precisarei para suportar a espera até o dia 2 de outubro. Fujo para trazer no retorno a alegria que me permitirá vibrar pela derrota do ódio.

Mesmo mergulhando em águas aquecidas e radioativas, não quero adquirir superpoderes. A mim basta a vitória pelo poder do voto. Quero o Brasil de volta para todos nós, sem preconceito de qualquer ordem.

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Maria Avelina Fuhro Gastal

E-mail: avelinagastal@hotmail.com

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